Com um currículo acadêmico exemplar, Bruna Tessari, aluna de Medicina Veterinária do campus Fernandópolis da Universidade Brasil, é um exemplo concreto de como a formação universitária, aliada a uma boa oportunidade no mercado de trabalho, pode contribuir para o desenvolvimento profissional e também para melhorar as condições sociais e financeiras familiares e da comunidade.

Através da indicação de sua orientadora do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), Bruna conseguiu um estágio na EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, órgão vinculado ao Ministério da Agricultura que atua no fomento da agricultura e pecuária nacional através do desenvolvimento e transferência de novas tecnologias para os produtores nacionais. Pelo seu desempenho, ela foi convidada a participar, gratuitamente, do programa Balde Cheio, uma metodologia de transferência de tecnologia que tem por objetivo capacitar profissionais da assistência técnica, extensão rural e pecuaristas em técnicas, práticas e processos agrícolas, zootécnicos, gerenciais e ambientais que são adaptadas em propriedades que se transformam em salas de aula. 

Com os conhecimentos obtidos, Bruna começou a aplicar os novos conceitos na propriedade da família, um assentamento de 4 alqueires dedicado a bonivicultura de leite, localizado no município paulista de Ouroeste, obtendo expressivos resultados que incluem aumento de produtividade, melhoria no manejo e respectivo aumento da qualidade de vida dos animais e da produção leiteira. 

Segundo Bruna, “o projeto Balde Cheio apresentou soluções simples e, com a implementação dos conceitos aprendidos, passamos a realizar um planejamento e gerenciamento das atividades diárias e resultados, traçando metas futuras, melhorando a produtividade e consequentemente a renda. Além disso, o sucesso alcançado em nossa propriedade serve de modelo e estímulo às propriedades dos arredores que nos tomam como exemplo”.

Para a Profa. Dra. Amanda Prudêncio Lemes, da Universidade Brasil e orientadora do TCC Bruna, os resultados obtidos por Bruna refletem a responsabilidade das instituições universitárias que, nesse caso, extrapola a função acadêmica. “O maior trunfo, o produto mais importante da universidade, é colocar o aluno no mercado de trabalho. Procuramos direcionar cada aluno para um estágio que tenha a ver com suas habilidades, já com foco na colocação profissional”, analisa a professora.

Capacitação que gera resultados

O planejamento aplicado na propriedade da família, através das orientações do Programa Balde Cheio, foi responsável por uma verdadeira revolução nas práticas diárias que gerou ganhos produtivos, qualitativos e financeiros por meio de ações simples efetivadas em curtíssimo espaço de tempo.

A produção de leite, por exemplo, que em setembro de 2020 registrava 90 litros/dia, passou para 120 litros/dia em março de 2021, um expressivo aumento acima de 33%. No manejo de novilhas a propriedade também obteve um avanço considerável de 57,20%, devido ao processo de aclimatação das bezerras e novilhas que incluiu adaptações e doma racional, entre outras ações. O manejo de ordenha apresentou uma evolução de 62,08%, graças as melhorias no manejo e higienização dos tetos no momento da pré ordenha.

A evolução do manejo de alimentação também recebeu atenção com a implantação de 1,5 ha de BRS Capiaçu, uma capineira utilizada para produção de silagem, que objetivou a melhoria da alimentação das vacas em lactação. Também foi realizado o plantio de 1 ha de Mombaça cv na área utilizada para pastejo extensivo para suprir a alimentação do restante dos animais, ampliando o espaço a essa destinação para 5,5 ha.

Outra medida adotada, bastante simples e sem custo, foi em relação à assistência ao parto que anteriormente se dava de forma antecipada e, atualmente, é realizada através de uma observação discreta e contínua da vaca a partir do momento que ela entra em trabalho de parto, respeitando o tempo de espera para intervenção de até quatro horas após ruptura da bolsa. Caso, realmente, o parto necessite de intervenção faz-se o uso de luvas, tomando-se todos os cuidados de higiene com o animal e acessórios utilizados. 

Mensalmente, são realizadas as pesagens das vacas recém-paridas, assim como de suas crias, desde o nascimento da bezerra até a primeira cobertura da vaca. Além disso, todas as bezerras recebem brincos de identificação, o que não era feito antes do início do projeto.

Outra atividade executada foi a criação de um banco de colostros, com zero investimento, utilizando-se duas garrafas pets, medida simples, mas fundamental para o sucesso do processo de melhoria da produção. A propriedade também recebeu um cocho fixo, de cimento, com 8 metros de comprimento, para o fornecimento de alimentação volumosa aos animais. Anteriormente, o alimento era servido em tambores de 200 litros cortados ao meio e, como não ficavam fixos, havia disputa entre os animais por espaço gerando a queda do tambor e respectivo desperdício de comida.

“Tenho muito que agradecer à Universidade Brasil e aos professores que sempre me incentivaram e me ajudaram a seguir. Quando fiquei grávida durante o curso, levei meu filho para as aulas comigo até o momento que ele passou a incomodar. Amamentei na universidade e, muitas vezes, os professores o seguraram no colo para eu poder fazer prova. Devo muito a eles e ao apoio da minha família, que hoje posso ajudar em função da oportunidade que tive de estudar”, conclui Bruna.

Balde Cheio – EMBRAPA

O Balde Cheio é uma metodologia de transferência de tecnologia que tem por objetivo capacitar profissionais e pecuaristas em propriedades que se transformam em salas de aula e são monitoradas em relação aos impactos ambientais, econômicos e sociais no sistema de produção após a adoção dos procedimentos.

A capacitação prática e a troca de informações acontecem, principalmente, na propriedade rural, chamada de unidade demonstrativa (UD) e a parte teórica do treinamento ocorre na Embrapa Pecuária Sudeste ou em áreas de instituições parceiras. A partir da estruturação da propriedade, com base nas orientações do projeto, a unidade demonstrativa passa a ser uma referência na região.

Uma das principais estratégias do Programa Balde Cheio são as parcerias efetuadas com diversos tipos de instituições públicas – órgãos de assistência técnica e extensão rural vinculados às Secretarias Estaduais de Agricultura, prefeituras, departamentos de agricultura municipais e instituições de ensino e pesquisa, instituições financeiras, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento -, e privadas, como cooperativas, laticínios, associações, federações de agricultura, Sebrae, instituições de ensino e pesquisa e profissionais autônomos.

O envolvimento de parceiras distintas entre diferentes elos da cadeia produtiva do leite confere ao projeto uma base sustentável e dinâmica, colaborando para a formação de uma rede de trabalho onde ocorre uma intensa troca de informações e de conhecimentos.

Em 2019, o programa Balde Cheio atendeu um total de 1609 propriedades, em 468 municípios de 19 estados. Estão em capacitação 260 técnicos, que atuam em 326 Unidades Demonstrativas, e 1283 propriedades.